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Defensivos Agrícolas

Controle Químico: Entenda a classificação dos agrotóxicos

2 de julho de 2025
Matheus L.
10 min de leitura

⚠️ AVISO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE ⚠️

Esta publicação tem fins exclusivamente informativos e não substitui a orientação técnica de um engenheiro agrônomo. O uso de defensivos agrícolas envolve riscos e requer conhecimento técnico especializado.

A recomendação, prescrição e aplicação de produtos químicos no campo deve ser feita sempre sob responsabilidade e acompanhamento de um(a) engenheiro(a) agrônomo(a), profissional legalmente habilitado e registrado no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA).

É obrigatória a consulta a este profissional antes do uso de qualquer produto químico, conforme estabelece a legislação vigente. A adoção de boas práticas e o cumprimento da legislação são fundamentais para garantir a segurança da lavoura, do aplicador, do consumidor e do meio ambiente.

O Essencial Papel do Controle Químico na Agricultura Moderna

No universo da agricultura moderna, onde a produtividade e a sustentabilidade caminham de mãos dadas, compreender os instrumentos de defesa das lavouras é mais do que uma necessidade: é a chave para o sucesso. Estamos falando dos agrotóxicos, produtos que atuam no controle de pragas, garantindo a sanidade das culturas e minimizando perdas que podem ser totais e devastadoras.

"No universo da agricultura moderna, onde a produtividade e a sustentabilidade caminham de mãos dadas, compreender os instrumentos de defesa das lavouras é mais do que uma necessidade: é a chave para o sucesso."

Mas o que são, afinal, esses produtos químicos que se tornaram tão essenciais no campo? Agrotóxicos, em um sentido mais amplo, são produtos e agentes físicos, químicos ou biológicos, desenvolvidos para alterar a composição da flora ou fauna, preservando a produção agrícola da ação danosa de seres vivos considerados nocivos. Dentro desse vasto espectro, os agrotóxicos são precisamente aqueles destinados a combater insetos e ácaros, respectivamente. Eles são formulados para intervir diretamente nos organismos vivos, bloqueando processos fisiológicos ou bioquímicos vitais.

Representação de uma lavoura saudável com um agricultor inspecionando as plantas, simbolizando a proteção contra pragas.
Figura 1: A utilização consciente de agrotóxicos é vital para a proteção das lavouras e a garantia da produtividade agrícola. A utilização consciente e correta de agrotóxicos pode ser segura a operadores e consumidores, para isso, é importante entender quais produtos e como utilizá-los, desprezando produtos com maior potencial de risco, além de consorciá-los com outros métodos não-químicos. Imagem gerada por inteligência artificial com o Google Image4 .

A Anatomia da Classificação: Uma Questão de Ordem e Segurança

Para navegar neste complexo cenário, os agrotóxicos não são apenas aplicados; eles são meticulosamente classificados. Essa categorização é um alicerce fundamental para o manejo responsável e eficaz, sendo dividida em três pilares principais: a Classificação Toxicológica, a Classificação Ambiental e a Classificação Segundo o Modo de Ação. Cada uma delas oferece uma perspectiva única sobre o impacto e o funcionamento desses produtos.

1. Classificação Toxicológica: O Semáforo da Periculosidade Humana

A toxicidade aguda é o cerne dessa classificação, mensurada através de parâmetros como a DL50 oral (dose letal mediana por via oral), DL50 cutânea (dose letal mediana por via cutânea) e CL50 inalatória (concentração letal mediana por via inalatória). Esses valores, que indicam a quantidade de substância capaz de causar a morte em 50% dos organismos testados, são o ponto de partida para categorizar os produtos em níveis de risco:

  1. Categoria 1: Extremamente Tóxico – Sinalizada por uma faixa vermelha, representando o mais alto nível de perigo. Para se enquadrar aqui, os valores de toxicidade são os mais baixos (o que indica maior toxicidade):
    • Oral: ≤ 5 mg/kg p.c.
    • Cutânea: ≤ 50 mg/kg p.c.
    • Inalatória (Gases): ≤ 100 ppm/V
    • Inalatória (Vapores): ≤ 0,5 mg/L
    • Inalatória (Sólidos e Líquidos): ≤ 0,05 mg/L
  2. Categoria 2: Altamente Tóxico – Também identificada pela faixa vermelha, denotando alto risco. Os limites são um pouco mais elevados que a Categoria 1, mas ainda indicam alta periculosidade:
    • Oral: > 5 – 50 mg/kg p.c.
    • Cutânea: > 50 – 200 mg/kg p.c.
    • Inalatória (Gases): > 100 – 500 ppm/V
    • Inalatória (Vapores): > 0,5 – 2,0 mg/L
    • Inalatória (Sólidos e Líquidos): > 0,05 – 0,5 mg/L
  3. Categoria 3: Moderadamente Tóxico – Representada pela faixa amarela. Aqui, os valores de DL50 e CL50 são intermediários:
    • Oral: > 50 – 300 mg/kg p.c.
    • Cutânea: > 200 – 1000 mg/kg p.c.
    • Inalatória (Gases): > 500 – 2500 ppm/V
    • Inalatória (Vapores): > 2,0 – 10 mg/L
    • Inalatória (Sólidos e Líquidos): > 0,5 – 1,0 mg/L
  4. Categoria 4: Pouco Tóxico – Indicada pela faixa azul. Os limites são mais altos, denotando menor toxicidade aguda:
    • Oral: > 300 – 2000 mg/kg p.c.
    • Cutânea: > 1000 – 2000 mg/kg p.c.
    • Inalatória (Gases): > 2500 – 20000 ppm/V
    • Inalatória (Vapores): > 10 – 20 mg/L
    • Inalatória (Sólidos e Líquidos): > 1,0 – 5,0 mg/L
  5. Categoria 5: Improvável de Causar Dano Agudo – Também com faixa azul. Esta categoria agrupa produtos com toxicidade muito baixa:
    • Oral: > 2000 – 5000 mg/kg p.c.
    • Cutânea: > 2000 – 5000 mg/kg p.c.
    • Inalatória (Gases): > 20000 – 50000 ppm/V
    • Inalatória (Vapores): > 20 – 50 mg/L
    • Inalatória (Sólidos e Líquidos): > 5,0 – 12,5 mg/L
  6. Não Classificado: Produto Não Classificado – Apresenta uma faixa verde.
    • Oral: > 5000 mg/kg p.c.
    • Cutânea: > 5000 mg/kg p.c.
    • Inalatória (Gases): > 50000 ppm/V
    • Inalatória (Vapores): > 50 mg/L
    • Inalatória (Sólidos e Líquidos): > 12,5 mg/L

É vital ressaltar que essa classificação não é estática. Novas informações e estudos podem levar à reclassificação de um produto, a critério da autoridade reguladora, como a Anvisa. Casos emblemáticos de agrotóxicos proibidos no Brasil, como Carbofurano, Endosulfan e DDT, exemplificam essa dinâmica, tendo sido banidos devido à sua alta toxicidade aguda, persistência ambiental, potencial carcinogênico, teratogênico, neurotoxicidade e distúrbios hormonais.

2. Classificação Ambiental: Protegendo Nosso Planeta

Indo além do impacto direto no ser humano, a classificação ambiental avalia o potencial de risco de um inseticida ao meio ambiente, considerando sua toxicidade e persistência em ecossistemas. Ela é dividida em quatro classes, do mais ao menos perigoso:

  • Classe I: Produto ALTAMENTE PERIGOSO ao meio ambiente.
  • Classe II: Produto MUITO PERIGOSO ao meio ambiente.
  • Classe III: Produto PERIGOSO ao meio ambiente.
  • Classe IV: Produto POUCO PERIGOSO ao meio ambiente.

A seriedade dessa classificação é evidenciada pela proibição de certos agrotóxicos no Brasil devido aos seus graves impactos ambientais e na saúde. O Carbofurano, por exemplo, foi banido por sua alta toxicidade aguda, persistência ambiental, teratogenicidade e neurotoxicidade. O Endosulfan, um inseticida/fungicida, também foi proibido devido à sua alta persistência ambiental, periculosidade, potencial carcinogênico e disruptor hormonal. E quem não se lembra do infame DDT? Apesar de ter valido um Prêmio Nobel, seu impacto negativo em diversas cadeias tróficas levou ao seu banimento nos EUA e em muitos outros países, com proibição completa no Brasil em 2009, embora ainda seja usado em algumas nações. Esses exemplos históricos ressaltam a importância de uma vigilância constante e da proibição de substâncias que, apesar de eficazes contra pragas, se mostram deletérias para a saúde humana e ambiental a longo prazo. Assim como na classificação toxicológica, um produto pode ser reclassificado ambientalmente se surgirem informações adicionais pertinentes.

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